ARTE DE MALANGATANA INSPIRA ILUSTRADOR CABO-VERDIANO PREMIADO

Lenda da arte moçambicana, Malangatana
O ilustrador cabo-verdiano Wilson Lopes, 33 anos, inspirou-se numa lenda da arte moçambicana, Malangatana, para as ilustrações de um livro que lhe valeram um prémio que promete notoriedade no espaço lusófono.
“Quem conhece bem a arte de Malangatana, vai conseguir ver os traços”, nas ilustrações do conto ‘Nina’, de Vanda Azuaga Monteiro, título vencedor da 1.ª edição do Prémio Literário Infantojuvenil Manuel Lopes, anunciado em agosto de 2024, iniciativa da Casa da Moeda (INCM) e Instituto da Biblioteca Nacional de Cabo Verde (BNCV).
Quando foi publicado o anúncio a abrir concurso para ilustrar a história premiada, Wilson Lopes avançou: pegou no conto e percebeu que não era obra para acompanhar com o seu estilo favorito, manga, de origem japonesa.
“Então inspirei-me num artista de que gosto muito, Malangatana”, que conheceu pelas imagens que um moçambicano lhe mostrava, numa firma para a qual já trabalhou.
Wilson, também conhecido como Tozé, adaptou o estilo, teve de “filtrar” a expressão mais crua e explicita do artista plástico do Índico e “trazê-la para o mundo infantil”, em ilustrações que, em breve, deverão ser conhecidas e publicadas.
“Uma dificuldade em ser ilustrador em Cabo Verde é ter trabalho, especialmente como ‘freelancer’. Normalmente, optamos por procurar emprego fora”, descreve à Lusa.
“O mercado interno é mais pequeno”, refere, enquanto monta a mesa digitalizadora, ligada a um computador, em que começa a desenhar uma personagem, rapidamente, com uma caneta especial.
Actualmente, 65% das bandas desenhadas que faz são encomendadas por autores portugueses, entre outros, a quem envia o currículo e o portefólio digital ou que o conhecem através do passa-a-palavra no meio.
Mas o sonho de Wilson é publicar a sua própria coleção de banda desenhada, contar as suas próprias histórias, um objetivo que o Prémio Literário Infantojuvenil Manuel Lopes, na categoria de ilustração, pode ajudar a conquistar — a distinção inclui uma componente pecuniária de cinco mil euros (repartida equitativamente entre as categorias de texto e ilustração) e a edição em livro dos trabalhos vencedores.
O ilustrador nasceu na Praia, capital cabo-verdiana, e diz que desenha desde que se lembra que é gente, sempre incentivado pela mãe – foi o único, entre cinco irmãos, que se manteve a trabalhar no ramo artístico. Começou por desenhar personagens, cenários e animações para jogos de computador, depois dedicou-se ao trabalho de retratista, até que a ilustração e banda desenhada começaram a ocupar-lhe mais tempo.
Wilson Lopes espera conquistar notoriedade para dar vida a cinco personagens que já esboçou e que mostra, guardadas no computador, à espera que um dia ganhem vida.