CONHEÇA AS AGOJIE, GUERREIRAS DO DAOMÉ
Em uma época em que mulheres eram vistas como inferiores perante os homens, o Reino de Daomé possuía uma organização social progressiva. Esse sistema de igualdade de género incluía todas as posições mais importantes como generais militares e conselheiros financeiros.
O rei chegava a conceder o título de Kpojito, mulher rei, a companheira de reinado.
Mas quem foram essas mulheres poderosas que lutavam e defendiam o reino?
As Agojie ou guerreira de Daomé eram uma força de elite do exército do Reino do Daomé, atual Benim, formado exclusivamente de mulheres guerreiras. O reino ostentava um exército composto por 6 mil mulheres que se tornarem conhecidas por sua bravura e agilidade nas lutas.
Os primeiros registros de existência datam do século XVII (entre 1645 e 1685) durante o reinado de Aho Houegbadja, terceiro rei do Daomé e fundador da capital do reino Abomey. Além de promulgar leis, desenvolver a cultura política, a religião e a administração, o rei Houegbadja criou este exército que chegou a ter 6 mil mulheres em seu auge, cerca de um terço do exército daomeano.
Um dos fatores de sucesso sobre os inimigos europeus era a surpresa. Homens brancos treinados para lutar com outros homens, que viam mulheres como seres fisicamente inferiores, sob o estereótipo de passividade e docilidade ficavam aterrorizados.
Treinadas em combate de guerra corpo a corpo, lanças, facões, armas de fogo e para sobreviver em condições hostis, as Agojie também eram iniciadas no culto Vodunsn, uma tradição religiosa ancestral dos povos Ewe-Fon também praticada no Brasil no que hoje conhecemos como candomblé de nação Jeje. Durante o período de guerra não era permitido às guerreiras ter vida conjugal ou qualquer tipo de contato sexual, visando evitar a gravidez.
As suas operações acompanhavam desde a invasão de aldeias sob o manto da noite, até a captura de prisioneiros que tinham as suas cabeças decepadas e usadas como troféus de guerra, garantindo a sobrevivência de seu povo. Elas eram chamadas amazonas por ocidentais e historiadores, devido à semelhança com as míticas guerreiras da antiga Anatólia e do Mar Negro.
As Agojie atingiram o seu ápice no século 19, sob o reinado do Rei Ghezo, que as agrupou formalmente ao exército de Daomé, que continha um dos territórios mais ricos da época. Devido às guerras em andamento no reino e ao comércio de escravos, a população masculina de Daomé caiu significativamente, criando uma oportunidade para as mulheres entrarem no campo de batalha.
Para ingressar no exército, as mulheres se voluntariavam ou eram forçadas a entrarem, como é o caso das meninas consideradas rebeldes. Algumas eram capturadas ainda crianças e a maioria, se não todas elas, eram pobres.
Filme “A Mulher Rei”
As guerreiras Agojie ou guerreiras de Daomé foram retratadas no Filme “A Mulher Rei”,onde uma mulher acaba no exército depois de se recusar a se casar com um pretendente rico e idoso.Para se tornar de fato uma Agojie, as recrutas tinham que passar por treinamento intenso, incluindo exercícios projectados para ficarem firmes ao derramamento de sangue.
Todas as guerreiras eram consideradas como as esposas do Rei ou Ahosi, como eram chamadas. Elas habitam o palácio ao lado do rei e das suas outras esposas. Por serem “casadas” com o rei, elas foram impedidas de terem relações sexuais com outros homens, no entanto, elas não tinham contacto íntimo com o rei e nem geravam os seus filhos.
Em 1892, o exército Agojie lutou contra os franceses na tentativa de os repeli-los. Apesar do empenho nas lutas e as suas bravuras, os franceses tomaram oficialmente a capital do Daomé, Abomey, em 17 de novembro daquele ano – o que resultou na queda do Império.