FADO E SEMBA UNEM ANGOLANOS E PORTUGUESES NA FESTA DE CAMÕES
Ana Moura, voz possante do fado português, foi a grande atracção de um espectáculo realizado segunda-feira, na Escola Portuguesa de Luanda (EPL), por ocasião do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas assinalado a 10 de Junho.
A actividade teve início às 18h00, com o embaixador de Portugal em Angola, Francisco Alegre Duarte, e a ministra da Coesão Territorial de Portugal, Ana Abrunhosa, a darem os cumprimentos de boas-vindas aos convidados, integrados por membros do Governo angolano e do corpo diplomático acreditado no país.
Um grupo coral de estudantes da EPL abriu a actividade, entoando os hinos nacionais de Angola e de Portugal. A gastronomia e os vinhos portugueses não faltaram. Num ambiente carregado de glamour, angolanos e portugueses estavam, mais uma vez, unidos pela cultura num espaço com duas centenas de pessoas ávidas em ver e ouvir a cantar uma das mais talentosas fadistas portuguesas, Ana Moura, cujas raízes maternas tem o cordão umbilical na cidade do Lubango, capital da província da Huíla.
Depois dos discursos dos anfitriões, o embaixador de Portugal em Angola, Francisco Alegre Duarte, e a ministra da Coesão Territorial de Portugal, Ana Abrunhosa, deu-se a abertura do espectáculo há muito aguardado pela comunidade portuguesa em Angola. Do disco “Casa Guilhermina”, um tributo à sua avó, a fadista explorou múltiplos estilos, cantando um pouco de tudo, desde o fado clássico ao tradicional, com misturas de kizomba e semba.
Todas essas experiências fizeram de Ana Moura uma artista não apenas inovadora, mas sobretudo extraordinariamente independente e livre na sua forma de estar e observar o universo musical. Foi com esse sentimento e sentido de universalidade, que provoca sempre novas reacções e factos culturais, que todos olham para o trabalho de Ana Moura como uma forma sublime de expressar a liberdade artística.
Durante a actuação, a cantora explorou também temas de outros discos com arranjos e sonoridades ecléticas, numa produção de André Moreira. Depois de ter visitado, pela primeira vez, a terra da sua avó Guilhermina, Ana Moura não tem dúvidas de que o disco é também uma celebração à música angolana, que muito a influenciou e ajudou a construir a sua carreira, com os ritmos e sabores da tradição angolana. Durante a exibição, pediu ao público que a ajudassem a cantar o tema “Corridinha”, música que aborda questões de opções entre comer uma boa feijoada, cachupa, funje ou fazer uma caminhada. No espectáculo, Ana Moura interpretou, ainda, os temas “Minha Mãe”, “Andorinha”, “Estranha forma de vida”, “Agarra “em” mim”, “Calunga”, versão do original de Bonga, “Desfado”, “Nossa Senhora das Dores” e “Mazia”, essa última em homenagem à falecida prima e amiga Cláudia, que muito a impulsionou na carreira musical quando com 16 anos fazia apresentações em bares.
Uma artista fantástica
O músico C4 Pedro foi uma das figuras angolanas que esteve no espectáculo e considerou Ana Moura “uma artista fantástica, por não ser simplesmente uma fadista, mas, sobretudo, por ser uma artista para todos os gostos, nacionalidades e culturas”.
De acordo com C4 Pedro, a fadista consegue mostrar que o talento está acima de qualquer estilo musical. Ela, disse, nunca está “presa” em nenhuma ideologia, embora tenha recebido alguma crítica pelo seu posicionamento “livre” na criação das suas músicas. Na verdade, frisou, o que acontece com os artistas é terem a liberdade de poderem expressar os sentimentos de forma espontânea. “Quando deixamos de fazer o que sentimos, deixamos de ser artistas”, disse C4 Pedro.
Na ocasião, o artista plástico angolano Bobs Moma ofereceu um quadro ao embaixador de Portugal em Angola, no qual explora aspectos ligados às relações de amizade e união entre angolanos e portugueses. O quadro apresenta pontos turísticos dos dois países, com imagens do pôr-do-sol de Luanda a retratarem o quotidiano das zungueiras.