PATRÍCIA FARIA PREOCUPADA COM ACTUAL ESTADO DO SEMBA
A cantora Patrícia Faria mostrou-se preocupada com a continuidade do Semba, que foi elevado a património imaterial nacional, afirmando que os artistas da nova geração estão sem compor o estilo e não há cantores a darem a devida sequência a este ritmo musical.
Patrícia Faria fez este pronunciamento no final da homenagem feita na programação mensal do Palácio de Ferro no projecto “Trajectória”, alertando que “o semba está a morrer”
“Hoje, com as constantes evoluções e as prioridades a nível da promoção cultural, vejo que o estilo está a ser confundido com outras coisas. Não basta cantar em línguas nacionais para dizer que se está a cantar o Semba”, criticou.
A cadência do Semba, reiterou, e o seu estilo são muito específicos e nos dias de hoje não há nenhum artista da nova geração, principalmente do género feminino, que se dedique a cantar os nossos ritmos.
“Fatozinha e Dina Santos são as referências de mulheres que temos no Semba, penso está na hora de passarem o testemunho, mas que não está a ser passado. Mas sem terem culpa de nada, porque ninguém pode amar aquilo que jamais lhe foi dado a conhecer, e se a juventude fica sem amor às nossas raízes, isso é motivo para reflectirmos todos e compreendermos o que se está a passar”, sublinhou.
Os ritmos e as canções do Semba, referiu Patrícia Faria, vêm sobretudo do carnaval e representam a essência da nossa cultura, acrescentando que é a partir dos carnavais que se cristalizam ritmos como a cazucuta, que evoluiu para as batucadas que se vêm hoje no kuduro.
Paty Faria, como é conhecida nas lides artísticas, defendeu que é preciso não deixar que a matriz do Semba desapareça, mas é isso que pode vir a acontecer se nada for feito para a sua preservação. “É hoje muito preocupante contar os sembistas da nova geração, deve ter mulheres que se assumem como verdadeiras sembistas, assim como eu assumo, mas somos muito poucas”, lamentou.
A educação e a cultura, sublinhou, são de uma importância fundamental para mudar a situação, é necessário que os jovens sejam educados a preservar e massificar os nossos ritmos populares, tradicionais.
A radialista disse que o público está sem consumir o Semba como se gostaria. “Tenho amor pela arte, mas devo ser pragmática e racional, porque se o mercado não absorve o que se faz, ficamos sem colocar novos discos para o público. Por outro lado, não há palcos para desfilar a arte, e o artista se concretiza em cima do palco”, observou.
Patrícia Faria ressaltou que para conseguir conciliar o trabalho, a arte e a família, só amor não é suficiente, sublinhando que é preciso ter foco e disciplina.
“Sem disciplina não conseguimos alcançar os objectivos, e encontramos muita gente talentosa mas que nunca conseguiu ter uma carreira longa. É importante que sejamos disciplinados quando queremos alcançar algum propósito, e sobretudo termos cooperação no que diz respeito à família”.
Patrícia Faria é uma das principais vozes femininas da praça angolana e que volta a actuar no Palácio de Ferro, depois de ter participado, em Maio, na segunda edição do Festival Balumuka.
Tem no mercado três álbuns discográficos, nomeadamente “De Kaxexe”, “Baza Baza” e “Eme Kya”, onde são encontrados temas como “Caroço Quente”, “Kibela”, “Triste Amargura”, “Zanga Kalunga”, “Eme Kia” “Papa wa Jimbidila” e “Cama e mesa” (Pacheco), “Tás aonde”, “Kamaka”, “Tó a ficar tonto”, “Maximbombo” e muitos mais.