PRÉMIO NACIONAL DE CULTURA E ARTES DISTINGUE ANTÓNIO AGOSTINHO NETO
O primeiro Presidente e Fundador da Nação, António Agostinho Neto, a título póstumo, o artista plástico Fernando Alvim, o historiador Jean-Michel Mabeko Tali, o cantor Mário Rui Silva, o dramaturgo Armando Rosa, o Colectivo Geração 80 e a Companhia de Dança Contemporânea da Zap são os vencedores do Prémio Nacional de Cultura e Artes 2022.
O anúncio foi feito, nesta segunda-feira, numa das salas de reuniões do Ministério da Cultura e Turismo, no Talatona, em Luanda, pela presidente do júri do Prémio Nacional de Cultura e Artes, Maria José Faria Ramos, coadjuvada pelo director Nacional da Cultura, Euclides da Lomba, para quem os vencedores mereceram tal honra, devido à qualidade das obras, à sua acção e influência para a sociedade.
Os criadores angolanos distinguidos, como reconhecimento do trabalho feito ao longo dos anos, em prol das artes e da cultura nacional, recebem os prémios, numa cerimónia oficial, a ser realizada no dia 10 deste mês, às 19h00, no Hotel Epic Sana, em Luanda.
Para o júri, o poeta António Agostinho Neto merece a distinção no ano da comemoração do seu centenário de nascimento pela transversalidade e valor multifacetado da sua obra e pensamento, pelo modo como se abre às problemáticas das culturas em Angola, das línguas nacionais, à filosofia africana, à questão da mulher e o seu entrelaçamento com as outras disciplinas artísticas, tais como a música, a dança, o cinema, o teatro e a literatura universal.
A transversalidade da obra de António Agostinho Neto, destacou, confere aos seus poemas a possibilidade de serem explorados não só como textos de conteúdo político, a partir do princípio lógico digital da escrita, mas também permite considerar as palavras e frases aí contidas como eventos que engatilham ritmos e oralidades como células cromáticas, sonoras, visuais e gestuais que dão movimento e circularidade aos escritos poéticos como matéria artística.
O artista plástico, curador e promotor de eventos Fernando Alvim foi distinguido pela longa carreira, tendo sido instrumental na emergência de jovens artistas após 2002 e, em particular com os projectos da Trienal de Luanda, durante os anos que precederam a sua primeira edição, em 2007. Na sua obra como artista, Alvim trabalhou com pintura, vídeo, instalação e mixed media. Destacou que a sua abordagem à pintura nos anos 80 do século XX, reflecte a influência de escritores como Luandino Vieira e Uanhenga Xitu, na forma como incorporou o texto no seu trabalho e o utilizou como uma marca da vida urbana de Luanda.
Um importante corpo de trabalho, que desenvolveu entre 1997 e 2001, a meio da guerra civil em Angola, foi o projecto “Memórias Íntimas Marcas”, que reflectiu exactamente sobre as marcas da guerra na nossa sociedade, mas principalmente em cada um de nós como indivíduos.
O historiador, professor universitário, romancista e analista político, Jean-Michel Mabeko Tali foi distinguido pela trajectória académica, o seu trabalho como investigador, a produção literária e pela participação em órgãos de natureza científica da UNESCO, especializados em questões relacionadas com a História de África.
Professor Titular de História de Africa na Howard University, Washington, DC., onde ingressou em 2003, Jean-Michel Mabeko Tali, tem o grau de PhD em História de África outorgado pela Universidade de Paris VII-Denis Diderot, em França, é Mestre em História, pela Universidade Bordeaux III e Bordeaux I e foi, entre 1996 e 2002, professor associado de História de África na Universidade Agostinho Neto.
O guitarrista, cantor, compositor, professor e investigador Mário Rui Silva foi distinguido pela versatilidade e longa carreira como intérprete, compositor, professor e investigador e grande contributo para a divulgação da música e da cultura angolana ao nível internacional. Músico versátil e exímio guitarrista com uma longa trajectória, segundo o júri, Mário Rui Silva inicia-se na música em 1961, com 9 anos de idade, integrando pouco tempo depois o agrupamento musical “Os Jovens”. Por volta de 1968 abandonou o grupo, dedicando-se à aprendizagem do violão acústico com mais profundidade e tornando-se de forma independente músico semiprofissional. Em 1972 participou como guitarrista no primeiro disco do Bonga, uma obra marcada por temas profundamente nacionalistas e de raiz angolana.
A partir de 1973, começa a cultivar uma profunda amizade com Liceu Vieira Dias, que se tornou o seu pai espiritual, sedimentando com esse convívio um sentimento nacionalista marcante. Essa relação proporcionou também a realização, a partir desse mesmo ano, e com o suporte de Liceu Vieira Dias de um importante trabalho de pesquisa e investigação na área do desenvolvimento musical em Angola, que culminou com a edição de um CD sobre a música de Angola dos anos 40, denominado “Chants d’Angola pour demain” (Cantos de Angola para Amanhã), 1994.
O dramaturgo e director teatral Armando Rosa foi distinguido pelo conjunto da sua obra que resulta de uma permanente dedicação à investigação e pesquisa num país onde a composição dramática e expressão cénica é ainda escassa. Com cerca de quarenta e sete anos de produção teatral ininterrupta e mais de quarenta textos teatrais encenados, de entre as quais, 38 prontos para publicar em livro, Armando Rosa é um artista da palavra, poeta, compositor, cantor, intérprete, actor e director teatral, cujo interesse pelo teatro começou em 1969, com o estudo da língua portuguesa na Escola Preparatória Sacadura Cabral de forma consciente e activa.
Ao Colectivo Geração 80 foi distinguido pela sua resiliência e visível contribuição ao desenvolvimento do Cinema e Audiovisual Angolano. Uma produtora angolana que alia competências locais de produção a técnicas, operacionais e organizativas, que vem produzindo ao longo dos anos conteúdos de qualidade, no que ao cinema de autor diz respeito, dando prioridade à arte, o que contribui para uma maior valorização e longevidade do resultado final. Constituída e dirigida por jovens que, a par dos seus trabalhos na área de publicidade dedicam-se à pesquisa, ao resgate da história do país e do cinema e que tem evoluído e conseguido dar continuidade ao que se começou nos idos anos setenta.
A Companhia de Dança Contemporânea da Zap foi distinguida pela proposta cénica e de produção nos seus espectáculos, incorporando diversas linguagens de dança contemporânea e da variedade dos espectáculos musicais. Uma companhia de dança que utiliza as danças angolanas, populares ou recreativas e folclóricas ou patrimoniais, seguindo uma linha de trabalho que faz recurso, sobretudo, às técnicas de dança contemporânea, moderna e clássica, associando diferentes estilos de dança tal como o Street Dance, Afro Urban e a Dança Teatral.