PORTUGAL É DISTINGUIDO EM FESTIVAL DE TEATRO
Portugal vai ser o país homenageado na sexta edição do Festival Ibero-Americano de Artes Cénicas (MIRADA), realizado na cidade de Santos, no Brasil, a partir de sexta-feira.
Entre as produções portuguesas que farão parte do evento destacam-se “Brasa”, do artista performativo e visual Tiago Cadete, e as montagens “Os Filhos do Mal”, “Viagem a Portugal, última paragem ou o que nós andámos para aqui chegar”, “Estreito/Estrecho” e “Cosmos”.
O espectáculo de dança “Ensaio para uma Cartografia”, da portuguesa Mónica Calle, também ganhou espaço na programação, que contará com 36 espectáculos de múltiplas linguagens em teatro, dança, performance e teatro de rua para todas as idades.
Danilo Santos de Miranda, director do Serviço Social do Comércio (Sesc) São Paulo, que organiza o evento, contou à Lusa que a homenagem a Portugal foi planeada para uma edição que aconteceria em 2020, mas acabou adiada em razão da pandemia da Covid-19.
O director do Sesc São Paulo lembrou, porém, que a mudança permitiu que as actividades se tornassem parte dos eventos dos 200 anos de Independência do Brasil de Portugal, celebrada oficialmente ontem.
“Fortaleceu de alguma forma o festival e ficou até melhor em termos de data, não que a pandemia trouxe alguma vantagem, mas o adiamento [do festival presencial] sim, que acabou coincidindo com um período em que comemoraremos também [os 200 anos da] Independência [do Brasil], discutindo as questões ligadas a Independência em todos os planos inclusive, no plano cultural”, disse Miranda.
“Trazer a produção actual de Portugal, com cerca de nove produções exclusivamente [criadas] em Portugal […] acabou dando uma pujança, uma força ainda mais potente ao festival, tanto que teremos neste ano o maior número de peças de grupos do país homenageado neste ano, com Portugal”, acrescentou.
Segundo os organizadores, os trabalhos de Portugal discutem sobre as identidades históricas forjadas na esteira do colonialismo como a conquista por meio do genocídio de povos originários de países colonizados seguida do processo colonizador com escravidão africana.
Questionado sobre a temática dos espectáculos, Miranda ressaltou a generosidade dos grupos portugueses em partilhar reflexões sobre os temas propostos e salientou que Portugal está na memória brasileira não apenas como o país colonizador até 1822, mas “na língua, no imaginário arraigado na tradição portuguesa”, concluindo: “Nossa Europa mais próxima é Portugal”.
O director do Sesc São Paulo disse que neste ano o festival pretende lembrar o período de 1822 e sua importância histórica para o Brasil, mas também será uma oportunidade para discutir a real independência, se ela de facto ocorreu ou não, e que tipo de país os brasileiros estão a construir.
Um destaque local na programação será justamente o espectáculo “Língua Brasileira”, do colectivo Ultralíricos, com banda sonora de Tom Zé, que traça a epopeia dos povos que formaram o português falado no país sul-americano, os seus mitos e cosmogonias, passando pelas remotas origens ibéricas, por romanos, bárbaros e árabes, povos africanos e povos originários.
Dois espectáculos sul-americanos tratarão de outro tema em destaque que é a preocupação com o meio ambiente e a floresta amazónica: “Teatro Amazonas”, idealizado pela coreógrafa espanhola Laida Azkona Goñi e pelo videoartista chileno Txalo Toloza-Fernández; e “La Luna en el Amazonas”, do Mapa Teatro, da Colômbia.
O Festival Ibero-Americano de Artes Cénicas acontece entre amanhã e 18 deste mês, no Sesc Santos. Além de Portugal e do Brasil, participam desta edição produções da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, Espanha, México, Peru, Uruguai e Venezuela.
Há, ainda, actividades formativas, uma instalação interactiva na unidade e um encontro que reúne programadores e directores de festivais cénicos internacionais e brasileiros.